quinta-feira, 22 de setembro de 2011

                            
O pote de barro


                                                                                                                                                                                   
   Bastava dirigir-me até a cozinha da casa. Ele ficava bem ali, numa pequena mesinha de madeira, entre as latas de banha, de um pobre infeliz que engordara demais. Eu não sabia o porquê, algo naquele reservatório de água, despertava-me tanto a atenção, e aguçava-me a curiosidade. Gastava tempo a observá-lo.
   Tampa não existia, ele sustentava apenas em sua boca, um velho prato esmaltado a fim de evitar surpresas indesejadas na hora de matar a sede. De cerâmica escurecida e puída pelo tempo, apresentava num de seus lados, uma saliência, que na minha ingenuidade e curiosidade pueril, induzia-me a assemelhá-la a um furúnculo. Durante muito tempo, questionei-me do porquê daquilo. Quem o fez, por que o fez daquele jeito?!... Tempos mais tarde, vim saber através da minha mãe, que aquela saliência, originou-se de um buraco, que o invalidava e o descartava. Porém, não se sabe ao certo, se fora por amor ou pura falta de condição financeira; levou alguém a colocar um pedaço de tijolo, bater cimento e validá-lo novamente.
    O fato é que aquele velho e intrigante pote, pertencera à família de meu pai, e que agora tornara-se propriedade nossa.
   Ainda hoje, quando retorno à Minas Gerais em visita a meu irmão caçula; deparo-me com ele; sobre a mesma mesinha de madeira e em ambiente semelhante à minha infância. Relíquia de meus pais, que já se foram; um pouco mais envelhecido; ele ainda resiste ao tempo e insiste em me levar de volta à épocas remotas, já engolidas pelo tempo. 

                                                                              Roniel Cardoso 

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